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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Tecnologia? Para ricos, sim. Para pobres, talvez


Cheguei cedo no trabalho e achei uma Revista Veja dando bobeira, a dessa semana, com a capa do filme do Lula. São 7:30 da manhã e dificilmente chega alguém nos próximos trinta minutos e esse texto nem vai demorar tanto para ser escrito.
Não leio a Veja, quando muito vou folheando e lendo alguma coisa que porventura não tenha o cunha político que só a Veja entende como imparcialidade. A sessão de comentário de livros, CDs e DVDs é bem bacaninha. Outra coisa que me desagrada é o fato da semanal ter quase duzentas páginas e mais da metade delas ser de publicidade.
Dessa vez a Veja bateu o recorde comigo, já na página 28, não se enganem, na página 28 está apenas a segunda seção com conteúdo (depois da entrevista). Passei pelas páginas amarelas, aquelas das entrevistas que são intercaladas no melhor da fala do entrevistado por uma publicidade de duas páginas. O entrevistado Adolfo Pérez Esquivel e a entrevista valem a leitura e o incômodo dos informes, talvez a Veja não esperasse por certas coisas que ele disse.
Mas o que me chamou a atenção foi o arremedo de ensaio do barbudinho Claudio de Moura Castro entitulado “Tecnologia para ricos ou pobres?” (Veja, 21/11/2009). Citando Marx e Dickens, o ensaista (como ele se autodenomina) faz uma espécie de digressão sobre o acesso do pobre à tecnologia.
Diz que o pobre tem mais acesso a celulares e computadores, como se tecnologia fosse só isso. Tudo bem que o pobre tenha mais acesso a produtos de informática, mas daí a dizer que a tecnologia já chegou na mão das classes menos favorecidas é outra coisa completamente diferente. Não basta dizer que a simples posse de um produto desses venha a ser um acesso garantido, muitos compram apenas pelo status e se usam de promoções que ou não tem como pagar a prestação depois de um tempo, ou não podem pagar a conta ou manutenção do objeto.
O Sr. Claudio (mantenho aqui o respeito por ser alguém mais velho) afirma que hoje um jovem empegado consegue ter uma motocicleta “desfrutando da incrível liberdade oferecida por ter seu próprio veículo”. Acho que ele esqueceu de pesquisar quantos desses jovens são motoboys, mototaxistas que trabalham sob a pressão intensa de um trânsito caótico. Veja quantos são habilitados (assim, com carteira) para pilotar a motoca? No interior do Brasil, quase nenhum.
Para a música ele lembra que o mp3 já é uma realidade e que o alto preço dos CDs pode ser tangenciado pelos downloads, e os garis e empregadas passam com seus fones todos fagueiros (expressão que ele deve ter conhecido no dia que escreveu o texto, pois se utiliza dela duas vezes). Como se o gari e a empregada doméstica não tivessem o direito de ouvir música em um fone de ouvido e que isso necessariamente não importa se tenha um mp3 player, pode ser inclusive um celular.
Sobre a questão do acesso a internet em relação à cultura, o Seu Claudio lembra que não precisa haver livraria em um município já que “há Amazon.com e suas versões caboclas”, como se o pobre que já comprou o celular, a moto e o computador, ainda tivesse alguma reserva para comprar um livro ainda mais na Amazon, como se o pobre tivesse acesso a um curso de inglês. Além disso, nem comprar livro precisa comprar mais já que grande parte de obras pode ser lida gratuitamente pela internet, pois o pobre tem muito tempo para ficar uma hora lendo um texto na telinha, ou papel suficiente para imprimir o conteúdo. Infelizmente, seu ensaio não está disponível para qualquer um na rede, apenas para os assinantes da revista. Mas, podemos ter acesso ao texto, “com um pouquinho de astúcia, sem gastar nada”.
Seu Claudio, ele mesmo escreve, que sua intenção não é desmerecer o pobre e não desmerece, e até dá algumas mostras (distorcidas é bem verdade) de que a tecnologia “traz benefícios para o povão”.
No final, quando você pensa que a discussão irá bem longe, quando as verdadeiras e oportunas perguntas são feitas, o texto acaba. Talvez a próxima edição da revista traga a resposta.

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